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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

 Você Passaria Num Teste de Fidelidade?


Davi não podia imaginar a encrenca em que estava se metendo ao receber sobre a cabeça aquele óleo derramado por Samuel. Mesmo ungido rei, não podia assumir o trono enquanto este estivesse ocupado por Saul. Para evitar um embate com o velho monarca, Davi tornou-se um foragido. Nas duas oportunidades que teve de livrar-se de Saul, preferiu poupá-lo. Não havendo mais lugar seguro para ele em Israel, Davi resolveu exilar-se entre os filisteus. Porém, não estava só. Seiscentos homens, com suas respectivas famílias, o acompanharam.

Agora seu desafio era outro. Teria que provar aos filisteus que não era um agente infiltrado. Dirigindo-se à Áquis, filho do rei de Gate, disse-lhe: “Se achei graça aos teus olhos, dá-me lugar numa das cidades da terra, para que ali habite. Por que razão habitaria o teu servo contigo na cidade real?” (1 Sm.27:5). Em resposta ao seu pedido, recebeu de Áquis a cidade de Ziclague. Enquanto esteve lá, Davi e seus homens pelejaram contra os gesuritas, os gersitas e os amalequitas. Mas quando perguntado contra quem ele havia lutado, Davi respondia que havia dado contra o Sul de Judá, ou contra o Sul de alguma outra parte do domínio dos Israelitas. Desta maneira, conquistava a confiança de Áquis, que pensava: “Fez ele por certo tão aborrecível para com o seu povo em Israel que me será por servo para sempre” (1 Sm.27:12).
tão aborrecível para com o seu povo em Israel que me será por s
ervo para sempre” (1 Sm.27:12).

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Aquele que havia sido o herói de Israel, que derrotara um gigante filisteu com uma funda, agora apelava a uma arma carnal, a mentira, para ser aceito entre seus inimigos.

Áquis, então, resolveu submetê-lo a um último teste de fidelidade:

“Naqueles dias, juntando os filisteus os seus exércitos para a peleja, para fazer guerra contra Israel, disse Áquis a Davi: Fica sabendo que comigo sairás ao arraial, tu e os teus homens. Disse Davi: Então verás o que é capaz de fazer o teu servo. Respondeu Áquis: Por isso eu te nomeio meu guarda pessoal para sempre” (1 Sm.28:1-2).

Não restava mais dúvida no coração de Áquis. Davi lhe era fiel. E a prova disso é que estava disposto a lutar contra seu próprio povo para defender seus novos aliados, os filisteus. Quem diria, aquele que havia sido predestinado a ser o rei de Israel, agora recebia a promessa de que seria o guarda-costa oficial do príncipe dos filisteus…

Não há quem traia a alguém, sem que antes traia a si mesmo. O homem segundo o coração de Deus entrava em rota de colisão com os propósitos divinos. Algo teria que ser feito para desviá-lo daquele caminho. Chegava a hora de Deus intervir mais uma vez na História, para que o seu trem voltasse aos trilhos. O texto sagrado diz que “ajuntaram os filisteus todos os seus exércitos em Afeque, e acamparam-se os israelitas junto à fonte que está em Jezreel. Os príncipes dos filisteus foram-se para lá com centenas e com milhares, mas Davi e os seus homens iam com Áquis na retaguarda. Perguntaram os príncipes dos filisteus: Que fazem aqui estes hebreus? Respondeu Áquis: Não é este Davi, o servo de Saul, rei de Israel, que esteve comigo há muitos dias ou anos? Coisa nenhuma achei contra ele desde o dia em que se revoltou, até o dia de hoje” (29:1-3). Mesmo tendo vivido ali por um ano e quatro meses, Davi ainda não se fizera conhecido de toda a Filístia. Embora gozasse da confiança de Áquis, ainda não conquistara a confiança dos demais príncipes. Sua presença ali causava mal-estar em todos. Por isso, os príncipes dos filisteus, indignados, disseram a Áquis: “Faze voltar a este homem, e torne ao seu lugar em que tu o puseste. Não desça conosco à batalha, para que não se nos torne na batalha em adversário (…) Não é este aquele Davi, de quem cantavam nas danças: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares?” (vv.4a,5).

Não se pode passar uma borracha na história. Mesmo vivendo ali no anonimato, a fama de Davi ainda ecoava. Que mais ele precisaria fazer para provar que era aliado?

Será que Davi sabia que Saul estava à frente do exército de Israel? Será que sabia que Jônatas, aquele com quem entrara em aliança, também estava lá? Mas a esta altura, suas preocupações e prioridades eram outras. Afinal de contas, ele agora tinha uma cidade inteira só pra si. Por que se interessaria pelo trono de Israel? O homem que se negara a usar a armadura de Saul, agora usava uma armadura filistéia. Seu coração acelerado. Sua respiração ofegante.

De repente, ouve dos lábios de Áquis: “Tão certo como vive o Senhor, tu és reto, e a tua entrada e a tua saída comigo no arraial é boa aos meus olhos. Nenhum mal achei em ti, desde o dia em que a mim vieste, até o dia de hoje, mas aos príncipes não agradas. Volta, agora, e vai em paz, nada faças para desagradar aos príncipes dos filisteus” (vv.6-7). Desgostoso, Davi reúne seus homens e bate em retirada. Aparentemente, a oportunidade de demonstrar seu valor aos filisteus escapou por entre seus dedos.

Foram três dias de viagem. Todos pareciam desanimados. Como explicariam às suas esposas e familiares a razão de não terem lutado? Quando chegaram a Ziclague, tiveram uma desagradável surpresa: “os amalequitas com ímpeto tinham dado sobre o sul e Ziclague, e tinham ferido a Ziclague e a tinham queimado a fogo; tinham levado cativas as mulheres e todos os que lá se achavam, tanto grandes quanto pequenos. A ninguém mataram, tão-somente os levaram consigo, e foram o seu caminho” (30:1-2). Os mesmos amalequitas contra os quais Davi pelejou enquanto esteve entre os filisteus, agora aproveitaram sua ausência para irem à forra. Enquanto Davi se preocupava em provar sua lealdade a Áquis, as pessoas a quem realmente devia lealdade eram levadas cativas pelos amalequitas. Davi teve muita sorte, pois se os amalequitas o tratassem da maneira como ele os tratou, não teriam poupado a vida de ninguém.

Exausto da viagem, desesperado com o quadro encontrado, só lhe restou chorar. O texto diz que ele e o povo “alçaram a sua voz, e choraram, até que não houve neles mais força para chorar” (v.4). Até as mulheres de Davi, Ainoã e Abgail, foram levadas. De repente, o choro dá lugar à revolta. O povo que antes o seguia, dispunha-se a apedrejá-lo. De amado a odiado, de querido a desprezado, Davi se viu só. Chegara a hora da guinada. Tudo isso acontecera para que ele se despertasse e relembrasse o propósito de sua existência.

Diante deste quadro caótico, “Davi se fortaleceu no Senhor seu Deus” (v. 6b). O que fazer? Que medida tomar? Davi, então, se dirige ao sacerdote Abiatar, e pede que se lhe traga a estola sacerdotal. Vestido como um sacerdote, Davi consulta ao Senhor: “Perseguirei eu a esta tropa? Alcançá-la-ei? Respondeu-lhe o Senhor: Persegue-a. De certo a alcançarás, e tudo libertarás” (v.8). Quanto tempo se perde quando, em vez de consultarmos a Deus, fazemos as coisas do nosso jeito! Acabamos perdendo o foco. Imagina se Davi não houvesse sido dispensado pelos príncipes dos filisteus… Quando chegasse a Ziclague, seria tarde demais. Tão logo recebeu o sinal positivo do Senhor, “partiu Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam” (v.9a).

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